segunda-feira, 10 de março de 2008

Desejos

Esse é mais um dos meus poemas espero que quem o leia o aprecie:

Como ao poeta,
A mim foi dado o dom de amar
E como ao poeta,
A mim foi negado o dom de ser amado.

Como ao poeta,
Que chora a dor em palavras
E transforma em versos as lágrimas
A mim foi entregue este cruel legado
De querer sempre ter o intocável.

Como ao poeta,
A mim foi dado o louco querer
De desejar o amor que esta acima de meus braços
Buscando-o sempre no intimo do meu ser
Arrebatando-me como fogo intenso na fria noite.

Como ao poeta das trovas medievais
Em mim se aglutina a infâmia da moral
Que de longe castiga
Deixando me, somente, a observar
A bela dos meus sonhos.

Aqui jaz este poeta
Que sempre ama,
Mas nunca é amado
E que carrega em si a marca
De todos os seus desejos intocados.

Seria este o fim?
Será que ainda esta por vir?
O dia em que essa sina
E todo o seu veneno sairá de mim?

terça-feira, 4 de março de 2008

Luna

Está é tradução de uma música envolvente e que fala muito a que tem uma alma poética...

Canção de Romano Musumarra e interpretada por Alessandro Safina

Você, lua
quantas são as canções que ressoam
desejos que através dos séculos
marcaram o céu para chegar a você
porto para poetas que não escrevem
e seguidamente perdem suas cabeças
você que acolhe os suspiros de quem sofre por amor
e doa um sonho a cada alma
lua que me olha agora, ouça-me

Você, lua
que conhece o tempo da eternidade
e a trilha estreita da verdade
faça mais luz neste meu coração
este coração de homem que não sabe, não sabe

Que o amor pode esconder a dor
como uma chama pode queimar-lhe a alma

Você, lua
você clareia o céu e a sua imensidão
nos mostra somente a metade que quer
como quase sempre depois nós faremos
anjos de argila que não voam
almas de papel que se incendeiam
coração como folhas que depois caem
sonhos feitos de ar que desaparecem
filhos da terra e filhos seus.

Que sabe que o amor pode esconder a dor
como a chama pode queimar-lhe a alma,
mas é com o amor que respira é o nosso coração
é a força que tudo movimenta e ilumina.


terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Em tempestade

By Ricardo Neto
Ali estava ele, sentado no banco daquela praça em baixo de um ipê amarelo que não mostrava mais as suas flores resplandecentes devido ao frio inverno que o fizera parecer seco como qualquer outra árvore morta. Ali ele esperava por algo que certamente não aconteceria. Cerrou os seus olhos e cabisbaixo lembrou-se de coisas de algum tempo atrás. Exclamou em um leve murmúrio - Ontem! Aqueles momentos que um dia existiram, mas parecem frutos da imaginação - Estes momentos passados agora estavam na sua cabeça fazendo sentir o que a muito não sentia. Por um pequeno instante sorriu, mas logo voltou a si fechando os seus lábios.

Era capaz de prever o que o aguardava e sentia muita pena de si pelo seu destino, queria descordar de suas previsões, pois não acreditava em destino acreditava apenas que fez as escolhas incertas, que tomou as decisões erradas e seguiu o caminho que não deveria andar, mas pelo fato de já se sentir culpado por sentir pena de si preferiu jogar a culpa de tudo no destino. Refletiu um pouco a cerca de suas escolhas e se questionou se os problemas se davam pelas suas escolhas ou por conta de toda a sua resignação perante a toda pujança e recusa alheia que sempre sofreu.

Acendeu um cigarro e tentou dar tempo ao tempo para ver se esquecia das suas dores, não teve jeito, tudo lhe parecia tão obscuro que nem por um momento conseguiu clarear as suas idéias. Deu uma tragada mais longa do que o normal para ver se isto o acalmava, foi em vão. De certo nada no mundo tiraria a sua preocupação somente aquilo que ele mais desejava e que, talvez, jamais poderia conseguir. Levantou-se e começou a caminhar lentamente pela praça enquanto consumia o cigarro ferozmente olhando, por entre a fumaça de suas baforadas, a multidão atônita que passava diante dele correndo como formigas de um lado para o outro sem um rumo certo.

Ele continuava ali como que se estivesse congelado perante as imagens em movimento. Estática era a sua situação, imutável como o caminho da vida perante o tempo. Hoje a sua sombra o acompanhava não pelo fato da luz não poder traspassar o seu corpo e provocar o efeito da sua imagem sobre o chão, não, a sombra hoje era o retrato da sua alma negra, fria e vazia assim como um túmulo esquecido no meio de um cemitério onde o seu corpo era o único que apodrecia sem ao menos a dignidade de ser lembrado. O cigarro se acabava lentamente assim como os minutos que se arrastavam quase mortos dando um tom mais soturno a pressão que lhe sufocava.

Nada podia ser mais torturante do que ver a expressão alegre nos rostos dos casais que se encontravam naquela praça, não pelo fato de suas alegrias, mas pelo simples fato de não poder ter tudo o que eles compartilhavam. Bem lá no fundo ele os invejava. Assim seguia, relutava, lastimava, pois a sua forte vaidade não lhe permitia que ele sentisse inveja com isso o fazendo alguém menos humano, com menos sentimentos, com menos desejos e com menos emoções. Seguia no seu conflito na sua guerra interior, com toda sua fúria represada a olhar atentamente tudo exatamente tudo que se configurava sua volta.

É verdade que todos os homens têm o seu fado e o seu fardo, mas para ele quase nenhum se igualaria ao seu. Por quê? Por que são poucos aqueles que foram privados de viver as coisas certas no tempo certo e só ele sabia como isso machucava. Com tudo via a sua juventude esvair como areia entre os dedos sendo suas mãos a sua ampulheta. Nos seus quase trinta anos de vida sabia que não tinha vivido quase nada, que havia passado uma parte da vida escondido e a outra grande parte perdido. A única satisfação para ele era ver que havia se encontrado, mesmo que julgasse que esse encontro com sigo mesmo tenha acontecido tardiamente. Era satisfatório ter a clareza das idéias que tinha agora, sempre se sentiu diferente dos outros e antes era meio covarde em admitir suas idéias e pensamentos. Falava sobre coisas que, às vezes não eram compreendidas por outros da sua mesma idade quando mais jovem, pois os outros o achavam estranho e na maioria das vezes debochavam e não levavam a sério as suas palavras ou qualquer outra coisa que propusesse. Talvez por esse motivo se escondia e deixou por muito se perder, pois não lutava e nem mesmo se confrontava com os outros, mas isto por um simples motivo, a necessidade de ser aceito e com isto tentar diminuir o seu isolamento.

Enquanto o céu se acinzentava com nuvens carregadas, ele continuava a caminhar lento e triste. Seus sonhos cada vez mais se distanciavam devido a improvável realização dos mesmos diante de todos os fatos que lhe envolviam.

As primeiras gotas gélidas caiam do céu e começavam a tocar sua face sem expressão. O seu coração carregado de sentimentos guardados o atormentava fazendo sua alma gemer. A cabeça continuava inquieta e as imagens que chegavam a sua mente eram frenéticas.

Os estrondos que anunciavam a atípica chuva naquele inverno não lhe causavam o mínimo espanto, pois já estava em tempestade que de tão grande se assemelhava ao mar em fúria sob mira de um tufão.

Explodiu como o temporal e chorou como a muito não fazia.

O seu pranto passou desapercebido no meio de todos que corriam, pois suas lágrimas se misturavam a água da chuva que escorriam pelo seu rosto.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Sozinho na profunda imensidão

Me encontro aqui sozinho
Na imensidão do meu castelo,
Esvaziando mais uma garrafa de vinho.


Meus pensamentos não mais se encontram nesta terra,
Se quer em outro lugar que não seja aquele,
Onde os nossos sonhos eram azuis e carregados de emoções.


Como areia lançada ao ar
O vento soprou e levou te de mim
Tudo se esvaiu... se foi... sumiu...


Por que tudo teve que ser assim ?

Contemplo teu quadro na parede
Que eu mesmo pintei
Com as lembranças que tenho de ti.

Mais uma vez lamento a ausência
Que me arremessou na grande escuridão
Me fazendo cada dia mais esmorecer.

Novamente falo com as paredes
Minha voz reverba intensamente
em toda a imensidão que me envolve.

Me perco novamente no vinho o seu doce me inebria
E me faz repousar na mais profunda alcova da mente
Onde tenho novamente tuas mãos sobre as minhas.

por Ricardo Neto

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

A chuva e os anjos

By Ricardo Neto

Era janeiro
E a infindável chuva
Não deixava brilhar
O grande sol de verão

Foi em um destes dias chuvosos
Em que ela apareceu tão bela e pura
Com seu olhar cintilante cor de folhas secas
E com seus fios dourados tão nobres quanto o ouro

Foi em um destes dias chuvosos
Em que meu coração bateu mais forte
Com a simples presença daquele anjo caído
E que no mesmo instante me deixou envolvido.

Mas mesmo sendo este anjo
Um anjo caído seria este anjo um anjo maldito?
Que de certo caiu neste mundo para capturar corações desprevenidos
E fazer destes a morada do castigo que tanto maltrata os mortais desprovidos?

De certo seria este anjo
Como todos os anjos que caem na vida de um homem?
O deixando compelido a sua graça mais pura deixando-o constrangido,
Impelindo-o ao nostálgico sentimento que alimenta o fogo de uma paixão eterna?

De certo este anjo
Era como todos os outros anjos
Que quando chega o seu momento voa e deixa para trás
Sem medo, sem pena os aprisionados nos seus sublimes encantos.

Foi neste mesmo janeiro
Em que ela chegou sem avisar
Que ela partiu repentinamente como um clarão
Me deixando sem saber, na silenciosa chuva do esquecimento.